Barca das Letras carrega livros e visita comunidades ribeirinhas, tentando desenvolver o hábito da leitura entre as crianças
Um barco diferente está circulando pelos rios brasileiros, principalmente nos rios da Amazônia.
Esse barco carrega livros e está visitando as comunidades ribeirinhas, tentando desenvolver o hábito da leitura entre as crianças.
O projeto teve início em 2008, no Amapá, na comunidade quilombola Conceição do Macacoari, à beira do Rio Macacoari.
O educador Jonas Banhos conversou conosco e explica direitinho como funciona o projeto Barca das Letras e como esse barco pode chegar até a sua comunidade.
Jonas explica que os livros são arrecadados em Brasília e todo mês são levados para as áreas escolhidas para incentivar a leitura das crianças.
Ouça mais sobre esse projeto no programa Nossa Terra, que vai ao ar de segunda a sexta, às 17h (horário de Brasília), na Nacional da Amazônia e às 15h (horário local), na Nacional do Alto Solimões.
Série de reportagens da TV Bandeirantes mostra a realidade da vida em Melgaço na Ilha do Marajó no Estado do Pará. A cidade tem o pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do país.
De repente, a comunidade de Montanha e Mangabal apareceu no noticiário.
Em 27 de agosto, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto,
anunciou em cerimônia que o governo federal destinaria “3,2 milhões de hectares
para reforma agrária e preservação ambiental” na Amazônia. Entre os destinos
dessa terra é citada a criação do “Projeto de Assentamento Agroextrativista
(PAE) Montanha e Mangabal”, no município de Itaituba, no Pará. O anúncio foi
destacado no “Muda Mais”, um “site de apoio à candidatura à reeleição de Dilma
Rousseff”, num momento em que a presidente era criticada por sua
política para a Amazônia. Dias depois, o governo marcou para 15 de dezembro a
data do leilão de São Luiz do Tapajós, a primeira das grandes hidrelétricas
planejadas para a região. Vale a pena botar uma lupa sobre esses dois nomes
bastante enigmáticos – Montanha e Mangabal – para fazer a necessária relação
entre as notícias produzidas pelo governo em momento eleitoral e ampliar a
compreensão sobre o trato da Amazônia. Na comunidade de Montanha e Mangabal
está contida a extraordinária luta de um povo para tornar-se visível para o
Brasil que o desconhece. E, ao existir para os olhos do país, preservar sua
terra e sua vida.
Produtos são orgânicos e atendem os mais altos padrões de qualidade
POR TERESA RAQUEL BASTOS, DE BELÉM (PA)
As margens do rio Guamá, em Belém (PA), escondem um chocolate tão simples e refinado que despertou o desejo de renomados chefs de cozinha. A responsável pelo segredo é Izete dos Santos Costa, mais conhecida como Nena, que mora na Ilha do Combu. Da capital até o local, são três quilômetros via popopó, uma embarcação comum no Estado.
A produtora foi descoberta pelo chef paraense Thiago Castanho, do Recanto do Bosque, e hoje as barrinhas de chocolate embaladas na folha do cacaueiro, cacau em pó, brigadeiros e nibs (granulado de cacau que cobre o brigadeiro) romperam as fronteiras do estado do Pará e abastecem o cardápio do premiado D.O.M., restaurante de Alex Atala, chef paulistano que figura entre os dez melhores do mundo.
Apesar da receita de família ser bem antiga, somente em 2006 ela começou a desenvolver o produto de hoje. Antes da produção, vendia apenas a amêndoa de dentro do fruto do cacau e fazia também biojoias para vender na cidade. A reviravolta aconteceu quando viu em uma feira de orgânicos na praça Batista Campos, em Belém, onde receitas de fundo de quintal eram sucesso de venda. Lembrou-se então que a família de seu esposo fazia para as festas uma barrinha de chocolate com o cacau colhido no quintal da casa.
As vendas foram um sucesso, mas para Nena ainda não estava bom. A amêndoa do cacau era moída no pilão, método trabalhoso e cansativo. Ao pensar em algo que moesse com menos esforço, encontrou no moedor de carne uma alternativa. Para sua surpresa a qualidade também melhorou. O grão ficava mais fino e o processo, mais higiênico. Com a máquina também conseguiu dar liga à massa sem precisar adicionar açúcar, criando uma fórmula de chocolate 100% cacau.
Pensando em aumentar a sua gama de produtos, Nena decidiu resgatar os bombons recheados feitos com frutas da região como o bacuri e o cupuaçu, entre outras, que fazia anos atrás para vender nas feiras que participava. Porém, como sempre utilizou chocolate tradicional, não sabia como incorporar o novo chocolate feito em casa à receita.
Para ajudar, uma amiga pediu ajuda a Thiago Castanho, chef paraense reconhecido no país inteiro por suas invenções na cozinha contemporânea feitas com ingredientes do bioma amazônico. Logo ele apareceu na sua palafita, viu como Nena fazia seu chocolate e levou uma prova para testar nas suas panelas. Ele voltou com um pedido: não mude sua receita. Com isso, ela não aprendeu a mudar os bombons recheados, mas sim a utilizar o método convencional para sustentar a família, juntamente com as vendas do açaí que cultiva no quintal na entressafra do cacau.
Daí sua vida mudou. "O Thiago me colocou na sua mochila e me levou para o mundo", conta, orgulhosa. Logo seu chocolate saiu do anonimato das feiras orgânicas de Belém e ganhou lugar na lista de sobremesas de Alex Atala. Pena que na região ainda não seja assim. "Em Belém ainda são poucas pessoas que conhecem meu chocolate. Às vezes expomos em shoppings de alto padrão na capital e as pessoas se surpreendem com nossos produtos", conta.
Sobre sua produção cacaueira, Nena não sabe estimar quantos pés possui em sua propriedade de 14 hectares. Todos eles estão lá desde que ela "se entende por gente". Pretende nos próximos meses plantar mais pés de cacau de forma sustentável. Eles levam cerca de três a cinco anos para começarem a produzir. "Os técnicos da Emater estão estudando os melhores lugares para plantar entre os pés já existentes. A gente não vai interferir na mata local para poder preservar. É uma agrofloresta, temos que manejar o que existe, sem desmatar". Lena conta que conseguiu financiamento para aumentar a produção, mas ainda não sabe quantas mudas terá.
Hoje, ela colhe cerca de 100 quilos por safra. É pouco, ela ainda precisa comprar cacau dos vizinhos. "Este ano tivemos uma baixa na produção aqui no meu terreno. Vou precisar comprar mais fora para atender à demanda pelos meus chocolates". O Pará figura hoje como segundo produtor de cacau do Brasil, ficando atrás da Bahia apenas.
Trabalhar com o produto não é fácil. Nena tem a "difícil" tarefa de comer o doce todo dia. "Tenho que experimentar, saber o ponto. Estou engordando, mas aqui ainda há briga para saber quem raspa a panela", diz, entregando a filha que espia a entrevista. Com essa árdua tarefa, uma coisa é certa. "Não temos tempo de esperar ficar triste para comer chocolate. O chocolate nos cura todo dia".
Durante a ida da Biblioteca Itinerante Infantil Barca das Letras até a Comunidade São José, localizada no Igarapé Vilar, zona ribeirinha do município de Abaetetuba, no Pará, ouvimos o senhor Romildes Ró, liderança ribeirinha da região. Mais conhecido como Ró, é coordenador da Comissão Pastoral da Terra(CPT) Região Guajarina e fundador do Movimento dos Ribeirinhos e Ribeirinhas das Ilhas e Várzeas de Abaetetuba - MORIVA e luta há décadas pela regularização fundiária das terras dos ribeirinhos, por políticas públicas, por educação de qualidade e adequada à realidade local, pelo respeito e cuidado à mãe natureza, pela organização comunitária dos moradores.
Muito antes da medicina ocidental os povos tradicionais já extraiam da floresta a cura para tratar os mais diversos males. Hoje, a ciência se apropria desse conhecimento passado de geração em geração durante séculos para desenvolver medicamentos à base de plantas, os chamados fitoterápicos. Apesar do conhecimento tradicional sobre as ervas e plantas ser cada vez menos habitual nos grandes centros urbanos, nas cidades amazônicas ainda é possível encontrar pessoas que aliam o uso de plantas medicinais ao tratamento convencional. Um conhecimento que precisa ser preservado para que não morra. A medicina da floresta está em foco.